30 de novembro de 2012

Fidelidade à vida


Não sabia o que ainda a prendia lá, talvez o deslumbramento, a proteção.
Se colocava em seus braços como se fosse a última vez, a última chance de sentir o que sentiu.
Tentava erguer sua cabeça mas o peso da sua dor a puxava para baixo.
Sorria um sorriso falso na esperança de transformá-lo em felicidade.
A solidão a havia cativado com tamanha intensidade indescritível.
Quem sabe um adeus? Um olá? Ou um até logo?
Na dúvida permanecia apenas calada.
Desejava estar imóvel, perdida em meio aos pensamentos de sua mente.
Invisível.
Como um escudo, protegia seus ouvidos e olhos da verdade.
Repetindo para si mesma, que tudo estava bem.
E como um sopro, viu sua vida passar diante de seus olhos.
A culpa a dominou.
Por falta de coragem deixou a lealdade por sua vida em segundo lugar.

4 de novembro de 2012

Minha menina

Mas minha menina, a vida não é feita de ilusões, e essa tua preocupação com a chuva é bobagem. Dá tua mão aqui, espera que logo chega a felicidade, e ela não deixa um gosto amargo na boca, como todas as outras coisas. Mas, minha menina, deixa aqui ao meu lado as tuas lágrimas para que plantemos esperanças, desfrutemos dos olhos vermelhos, das mãos enrugadas de choro, dos dedos tortos de estalos, das pernas marcadas por quedas.

Colhamos estrelas no quintal quando for véspera de ano novo, façamos um piquenique à luz de velas, brindemos as irreparáveis olheiras, os inseparáveis laços. Mas, minha menina, recitemos Cecília quando Marjorie tocar, gargalhemos da gente, encontremos respostas, misturemos os grãos. Escrevamos sobre cravos e rosas, sobre ares e folhas, sobre buscas e contos; criemos coragem, refaçamos as contas, resgatemos as causas, defendamos as massas. Vivamos de sonho e distribuamos amor. Sejamos eternos, sejamos felizes. Troquemos correntes por asas, espinhos por fitas, suspiros por dentes expostos em curvas labiais. Encaremos a verdade, disfarcemos a dor, imitemos os heróis e durmamos embriagados. Fustiguemos o mal, nos levantemos sobre os montes, brademos um hino, lutemos ao lado dos esquecidos. Eu sei que leva um tempo para entender, mas poetas nunca morrem, menina. Nunca morrem.