4 de novembro de 2012

Minha menina

Mas minha menina, a vida não é feita de ilusões, e essa tua preocupação com a chuva é bobagem. Dá tua mão aqui, espera que logo chega a felicidade, e ela não deixa um gosto amargo na boca, como todas as outras coisas. Mas, minha menina, deixa aqui ao meu lado as tuas lágrimas para que plantemos esperanças, desfrutemos dos olhos vermelhos, das mãos enrugadas de choro, dos dedos tortos de estalos, das pernas marcadas por quedas.

Colhamos estrelas no quintal quando for véspera de ano novo, façamos um piquenique à luz de velas, brindemos as irreparáveis olheiras, os inseparáveis laços. Mas, minha menina, recitemos Cecília quando Marjorie tocar, gargalhemos da gente, encontremos respostas, misturemos os grãos. Escrevamos sobre cravos e rosas, sobre ares e folhas, sobre buscas e contos; criemos coragem, refaçamos as contas, resgatemos as causas, defendamos as massas. Vivamos de sonho e distribuamos amor. Sejamos eternos, sejamos felizes. Troquemos correntes por asas, espinhos por fitas, suspiros por dentes expostos em curvas labiais. Encaremos a verdade, disfarcemos a dor, imitemos os heróis e durmamos embriagados. Fustiguemos o mal, nos levantemos sobre os montes, brademos um hino, lutemos ao lado dos esquecidos. Eu sei que leva um tempo para entender, mas poetas nunca morrem, menina. Nunca morrem.

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